Você já ouviu falar em stalkerware? O termo diz respeito a um tipo específico de aplicativo que é instalado no seu smartphone e rastreia toda a atividade que é realizada nesse celular. As informações são enviadas para o celular de um stalker, que pode ser desde um parceiro ciumento até um colega de trabalho querendo te prejudicar. Na prática, qualquer um que possa ter conseguido acesso ao seu aparelho.
Os stalkerwares estão preocupando cada vez mais especialistas em segurança e, claro, usuários. Isso porque o seu uso tem crescido significativamente no Brasil. De acordo com um levantamento da empresa de segurança digital Kaspersky, as tentativas de invasão de aparelhos por meio de aplicativos aumentaram em 228% em 2019.
Além disso, a variedade de programas também impressiona e preocupa. A Kaspersky encontrou 380 versões diferentes utilizadas nesse tipo de ataque, o que significa um crescimento de 33% em relação a 2018.
Neste artigo você vai saber como funciona um stalkerware, como descobrir se está sendo vigiado por algum aplicativo desse tipo e também como se proteger desse tipo de ameaça. Confira abaixo!
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Stalkerware: o que é e como funciona
Em geral, os stalkerwares são instalados sem o consentimento da vítima e por uma pessoa próxima, com acesso ao smartphone. Esse tipo de malware consegue monitorar a maior parte da navegação do usuário pelo celular, sendo capaz de rastrear dados como localização, histórico de navegação, uso de aplicativos, conversas nas redes sociais, senhas e logins. Alguns chegam a acessar a câmera e o microfone do aparelho, captando áudios e vídeos sem o conhecimento da vítima.
Muitas vezes o objetivo de quem instala um stalkerware em outro aparelho é roubar dados bancários e outras informações sigilosas. No entanto, um tipo classificado como spouseware também tem se popularizado no Brasil e em outros países. Trata-se de uma versão de aplicativo espião vendida por um baixo preço para cônjuges ciumentos vigiarem seus respectivos parceiros.
Ainda segundo a Kaspersky, apenas nos primeiros oito meses de 2019 foram mais de 37 mil usuários que descobriram um app espião em seus aparelhos (30% a mais do que em 2018).
Vale ressaltar também a diferença entre um stalkerware e um spyware, outro tipo de software malicioso. Ambos são programas capazes de monitorar os seus passos na internet em silêncio. Porém, enquanto o spyware vem na maioria das vezes através do download e da instalação de um programa ou de um arquivo por email, por exemplo, o stalkerware é instalado diretamente no dispositivo da vítima, numa técnica conhecida no contexto da segurança digital como engenharia social.
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Como saber se estou sendo espionado
Essa não é exatamente uma tarefa simples, uma vez que a ação de um stalkerware costuma ser discreta e silenciosa. Ainda assim, existem indícios que, se observados com cautela, podem significar que o seu celular está sendo rastreado. Confira algumas dicas abaixo.
Ruídos em ligações: vozes estranhas durante ligações telefônicas ou beeps inesperados podem ser um defeito de hardware, mas podem significar que a sua ligação está sendo gravada. Fique atento também à presença de sons estranhos durante a reprodução de áudios.
Dados móveis: o alto consumo repentino do seu pacote de dados móveis também pode ser um sinal de rastreamento do aparelho. Isso porque o invasor precisa de acesso à internet para receber as informações do seu celular. Fique atento para picos estranhos nos gráficos de uso dos dados móveis, contidos na área de configurações do smartphone.
Permissão para instalação de APK: outro indício de que o seu smartphone pode ter sido infectado por um stalkerware está na permissão dada para instalação de aplicativos externos, conhecidos por sua extensão como “APK”. O caminho pode variar entre cada modelo, mas normalmente trata-se de uma opção que autoriza “instalar apps desconhecidos” localizada na aba “segurança” do menu “configurações”. Se a opção estiver liberada e não foi você quem a ativou, esse pode ser um mau sinal.
Duração da bateria e superaquecimento do smartphone: dois indícios mais sutis, mas que devem ser levados em conta, são o superaquecimento do aparelho e o gasto repentino de bateria. A temperatura elevada é comum quando utilizamos muitas funções do smartphone, mas desconfie de aquecimento em períodos de repouso. Quanto à carga do aparelho, malwares contribuem para a redução da sua vida útil, então vale ficar atento também a quedas repentinas na autonomia da bateria.
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Como se proteger de um stalkerware
Instalar um antivírus de qualidade no seu smartphone é essencial. O Compara Plano já tratou desse assunto em um artigo sobre os melhores antivírus gratuitos e pagos em 2019. No entanto, se seu aparelho estiver sendo vigiado, talvez uma varredura de antivírus não baste, sendo necessário formatar o aparelho para garantir a remoção do aplicativo malicioso.
Mas, apenas um antivírus não basta, já que muitos ainda não conseguem detectar os apps espiões. Para se proteger de um stalkerware, existe uma dica que pode parecer simples, mas não falha: não compartilhe suas senhas. Por mais que seja uma pessoa de confiança, lembre-se de que é através de uma invasão direta no seu telefone que esses softwares são instalados.
Além disso, como mencionamos acima, existe uma opção nas configurações do seu celular que impede a instalação de aplicativos externos. Isso pode não impedir um stalker, mas deve dificultar a invasão. Revise também as suas senhas e os seus padrões de bloqueio se estiver desconfiado de alguém próximo.
Mulheres são as principais vítimas
Em uma palestra no evento TEDWomen 2019, a pesquisadora sobre segurança digital e diretora da Electronic Frontier Foundation (EFF), Eva Galperin, ressaltou como muitas empresas desenvolvem e comercializam inúmeros aplicativos stalkerwares com propagandas para “vigiar sua mulher” ou “pegá-la traindo”.
Após uma experiência pessoal de invasão, a pesquisadora passou a colher relatos de vítimas e descobriu que, na sua maioria, elas eram mulheres que também foram abusadas física e sexualmente, e agora eram vigiadas por aqueles que, muitas vezes, eram ex-parceiros.
Galperin fundou a Coalition Against Stalkerware, uma rede de associações de ativistas, cientistas e advogados que tem como objetivo alertar os usuários, prestar apoio às vítimas e ajudar desenvolvedores de antivírus a detectar esses aplicativos.
O grupo alerta em seu site que 70% das mulheres que foram vítimas de perseguição pela internet também passaram por alguma espécie de violência, seja física ou sexual, de um parceiro.
“A ligação entre a violência íntima entre parceiros, gênero e abuso facilitado pela tecnologia, assim como o uso de stalkerwares, precisa reverberar em políticas públicas, prevenções, suporte às vítimas, campanhas de conscientização, treinamentos e pesquisas”, diz a organização em seu site.
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É crime?
Atualmente, a legislação considera “molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável” como uma contravenção penal sujeita à pena de 15 dias a dois meses de detenção ou multa. No entanto, em agosto de 2019, a prática de stalking, tanto física quando digitalmente, foi tipificada como crime por um projeto de lei (PL) aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal em agosto de 2019.
O projeto altera o Código Penal para classificar como crime “perseguir ou assediar outra pessoa de forma insistente, seja por meio físico ou eletrônico, provocando medo na vítima e perturbando sua liberdade”. Além de atualizar o conceito de perseguição, o PL aumenta a pena para de seis meses a dois anos de prisão ou multa.
Em casos de relacionamento íntimo com a vítima, o crime é enquadrado como qualificado, e a detenção sobe para de um a três anos. O texto tramita ainda em Comissões da Câmara dos Deputados.
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