Em junho de 2019, a assessoria de imprensa do Ministério da Educação enviou uma solicitação de exclusão de um artigo da plataforma sobre Abraham Weintraub, Ministro da Educação do governo do presidente Jair Bolsonaro. Em agosto do mesmo ano, o MEC enviou uma nova solicitação, afirmando que tomaria “medidas judiciais cabíveis”, caso o artigo não pudesse ser removido. O processo continua em andamento e o artigo disponível no site.
Entenda a seguir por que o MEC ameaça processar Wikipedia, como funciona a Wikipédia e ainda outras polêmicas envolvendo a plataforma. Confira!
O caso da Wikipédia envolvendo Abraham Weintraub
O processo teve início em maio de 2019, quando a página do Ministro da Educação Abraham Weintraub na Wikipedia, criada em 8 de abril de 2019, foi alterada. O nome da página foi modificada para “Abraham ‘3 Chocolatinhos’ Weintraub.
Ao longo do texto também foram inseridas outras referências a diferentes marcas de chocolate, em ironia às falas do ministro sobre os cortes no orçamento das universidades públicas.
Na ocasião que deu origem ao caso, o ministro Abraham Weintraub tentou explicar o corte (ou contingenciamento, como anunciado pelo MEC) usando cem barras de chocolate. Weintraub separou três barras e meia para demonstrar a proporção dos cortes.
Contudo, a comparação foi equivocada, uma vez que deveriam ser 30 barras caso os chocolates representassem as despesas não obrigatórias das universidades.
As consequências da alteração
Em suma, a comparação acabou ampliando a polêmica sobre os cortes ou contingenciamento de gastos do MEC. Com as alterações da página do ministro o caso ganhou ainda mais destaque, mesmo que por pouco tempo.
Isso porque, em apenas quatro minutos a “pichação” virtual já havia sido apagada por um wikipedista. Após esse episódio, o editor solicitou o bloqueio da página para evitar novas alterações indesejadas.
Na prática, o evento não pode ser considerado como um ataque hacker. Uma vez que a plataforma é aberta para qualquer pessoa editar ou incluir novas informações nos artigos publicados na Wikipedia.
Com o bloqueio, a página só poderia ser alterada após 45 dias por usuários registrados há mais de quatro dias e que tivessem feito no mínimo dez intervenções na Wikipédia. Ainda assim, semanas depois a assessoria de imprensa do MEC solicitou a exclusão total do artigo da plataforma.
O acontecimento foi publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, em 3 de julho. Desde então, o artigo sofreu vários picos de audiência, tendo mais de 23 mil acessos no dia seguinte à publicação e nas semanas seguintes.
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Mas, por que o MEC ameaça processar Wikipedia?
Em um e-mail enviado a Wikipédia em junho de 2019, o MEC afirmava que “a página contém informações não confirmadas com a pessoa pública ora em destaque, contribuindo para interpretações dúbias”.
Com o bloqueio “a pessoa física/jurídica fica incapacitada de declarar a ampla defesa e o contraditório.” No entanto, a mensagem não especificava qual trecho ou informações deveriam ser alteradas. Assim o pedido foi negado pelos editores da Wikipédia.
Em agosto do mesmo ano, o MEC encaminhou uma nova mensagem à equipe do Wikipédia, afirmando que tomaria “medidas judiciais cabíveis”, caso o artigo não pudesse ser removido. Após a pressão do Ministério, o texto foi liberado e a página tornou-se protegida, tendo várias restrições para edição de conteúdo por voluntários, como por exemplo:
– boa reputação na plataforma;
– mais de 2000 edições de artigos na Wikipédia;
– uso de fontes verificáveis como reportagens e documentos públicos.
Em outras palavras, qualquer informação inserida na página deve passar pela avaliação dos administradores da plataforma.
Eles podem bloquear qualquer tentativa de exclusão de informações indesejadas ou inclusão de dados que favoreçam demasiadamente a alguém ou uma marca, por exemplo.
Dessa forma, as edições feitas pela assessoria do MEC foram desfeitas pelos editores da comunidade. E por isso, o MEC ameaça processar a Wikipédia, uma vez que as várias mudanças propostas não foram aceitas pela plataforma, que mantém informações consideradas equivocadas pelo ministro.
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O posicionamento da Wikipédia
Após a publicação de várias notícias sobre o caso, a comunidade de editores da Wikipédia divulgou uma nota em que informava que a plataforma não funcionava como uma rede social. Assim, as páginas não podem ser alteradas ou excluídos por seus biografados.
Os textos publicados na Wikipédia devem seguir normas e critérios de notoriedade da enciclopédia, além de outros princípios como verificabilidade e imparcialidade do conteúdo.
Dessa forma, os artigos da plataforma devem reproduzir o que é publicado por fontes reputadas e notórias, como por exemplo, jornais, revistas e documentos oficiais.
A nota também indicava que nenhum editor pode apagar um artigo que esteja de acordo com os critérios e regras da Wikipédia sem passar pelo crivo da comunidade de editores. Por fim, o comunicado ainda informava que o artigo do ministro Weintraub foi protegido por ser alvo de reiteradas edições problemáticas.
Em resumo…
Até setembro de 2019, a página do ministro da Educação Abraham Weintraub continuava ativa e com termos considerados impróprios, como por exemplo a expressão “corte de gastos” e informações sobre sua carreira e vida pessoal.
O processo continua em andamento, ainda que os editores da Wikipédia já tenham afirmado que os artigos da plataforma não podem ser excluídos ou alterados da forma como desejam seus biografados.
Além disso, a situação foi complicada com o requerimento do deputado Marcelo Freixo, que questiona o uso da assessoria do Ministério da Educação para fins pessoais. Com isso, o próprio MEC deve responder o requerimento, esclarecendo os acontecimentos.
Como funciona a Wikipédia?
Com a polêmica sobre por que o MEC ameaça processar Wikipedia, as normas e regras de funcionamento da plataforma passaram a ser questionadas.
Embora muitas pessoas acreditem que o conteúdo não seja totalmente confiável e que qualquer usuário possa editar os textos publicados, a plataforma possui diferentes meios de controle de qualidade e segurança.
Um deles é a própria comunidade de editores, que mantém a vigilância sobre os materiais, fontes e denúncias dos usuários. Para garantir a qualidade do conteúdo, os textos são avaliados e alterados quando necessário.
Para evitar casos de vandalismo virtual, algumas páginas como do Ministro da Educação Abraham Weintraub, o Presidente da República Jair Bolsonaro e da Ministra dos Direitos Humanos Damares Alves, são protegidas e têm regras adicionais para edição (como indicado anteriormente).
Dessa forma, para editar as páginas o usuário deve seguir as políticas da plataforma, evitando qualquer tipo publicidade ou uso para fins pessoais.
Portanto, os artigos não escondem escândalos, crimes, denúncias ou outros tipos de informações negativas. Ainda que possam manchar a imagem e a credibilidade de empresas, artistas ou políticos, por exemplo.
Outras polêmicas envolvendo a Wikipédia
Desde sua fundação em 2001, a Wikipédia é marcada por artigos polêmicos, que em geral envolvem temas relacionados à política, religião e futebol, por exemplo.
Frequentemente, páginas de todo o mundo são alteradas por usuários que buscam se promover, alterar dados ou excluir informações sobre determinado assunto. E por isso, a plataforma trabalha com vários critérios para controle das publicações.
Ainda assim, de acordo com o cofundador da plataforma Larry Sangrer, “a Wikipédia não funciona”, exatamente porque os usuários não entendem as regras e normas para publicação.
Diariamente a plataforma sofre tentativas de manipulação, tanto por questões ideológicas quanto publicitárias. Dessa forma, a plataforma conta hoje com editores e projetos de apoio que visam ampliar a segurança e qualidade da informação.
Por isso, vale a pena analisar as informações do artigo consultado, o ano de publicação/atualização e fontes utilizados. Outra dica é consultar os sites de referência para verificar o conteúdo original e obter mais dados sobre o artigo publicado na Wikipédia.
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