O YouTube não é para crianças. O próprio site declara em sua central de segurança e privacidade algumas normas para logar na plataforma. Entre elas, é necessário possuir uma conta no Google que atenda às restrições de idade mínima: 13 anos. No entanto, já se sabe que o público infantil representa uma parcela enorme dos acessos ao site. Além disso, a quantidade de vídeos para crianças no YouTube é igualmente grande.
Muitas vezes a plataforma serve como uma verdadeira babá eletrônica. O exemplo mais famoso é o caso da Galinha Pintadinha. O canal já conta com mais de 18 milhões de inscritos e vídeos na casa das centenas de milhões de visualizações.
Por outro lado, polêmicas na sua relação com o público infantil têm obrigado o YouTube a tomar algumas medidas. Sendo assim, a subsidiária do Google tem buscado aumentar a segurança no seu uso e melhorar a sua reputação. Principalmente aos olhos de pais, educadores e órgãos de regulação.
Em julho, o site alterou o algoritmo que rege o seu conteúdo. Ou seja, mudou o conjunto de regras que determina a ordem de apresentação dos vídeos nas páginas de busca. O algoritmo determina, além disso, o que aparece na lista de recomendações mostrada ao usuário enquanto ele navega pelo site.
Atualizações no algoritmo de alguns sites podem ocorrer sem anúncios para o público. Além disso, muitas vezes elas nem são percebidas. No entanto, não foi o caso. O tráfego em alguns canais infantis mudou de uma forma bem perceptível. Enquanto as alterações representaram uma ascensão súbita para alguns, outros passaram por uma queda significativa.
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Quais os novos critérios do algoritmo?
De acordo com informações da agência de notícias Bloomberg, a mudança foi mal recebida pelos produtores de conteúdo. Isso porque perceberam variações drásticas nas estatísticas de acesso dos seus canais da noite para o dia, sem entender o critério utilizado.
Nathan Laud, animador responsável pelo canal musical infantil Tiny Tunes, afirmou que as visualizações diárias nos seus vídeos caíram até 80% após a atualização. Ele questionou o YouTube por e-mail, que confirmou uma mudança no sistema de descoberta dos vídeos mas não detalhou os critérios.
Em uma declaração oficial, Ivy Choi, uma porta-voz da empresa, disse que o YouTube “faz centenas de alterações todos os anos para facilitar que pessoas encontrem o que elas querem assistir” e que recentemente “nós fizemos uma mudança que melhora a capacidade de usuários encontrarem conteúdo familiar de qualidade”.
E isso teria acontecido tanto em vídeos para crianças no YouTube “geral” quanto na versão Kids, lançada pela empresa no Brasil em 2016.
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O que é o YouTube Kids
O YouTube Kids é um aplicativo disponível para Android (Google Play Store) e iOS (App Store) que possui conteúdo filtrado e selecionado especificamente para o público infantil. A versão para crianças do site permite um maior controle por parte dos pais. É possível alterar configurações de busca, faixa etária, entre outras preferências.
Ao contrário do site original, o YouTube Kids não faz coleta de dados dos usuários. Também não permite propagandas clicáveis que redirecionem para outros sites. Ainda assim, o aplicativo exibe publicidade infantil, ponto controverso entre pais e educadores.
O YouTube Kids já existe desde 2015 nos Estados Unidos e, assim como a mudança no algoritmo, seu lançamento faz parte dos esforços da empresa em melhorar a sua imagem e tornar a experiência de navegação mais segura. Isso tudo após uma série de polêmicas envolvendo vídeos no YouTube para crianças.
Vídeos com crianças e vídeos para crianças
De acordo com um estudo publicado em julho de 2019, uma grande parcela do conteúdo mais popular do YouTube gira em torno das crianças – seja conteúdo infantil ou vídeos exibindo crianças abaixo dos 13 anos. A pesquisa foi feita pelo Pew Research Center, organização americana analista de tendências e opinião pública.
Em nota ao site Gizmodo, um porta-voz afirmou que, independentemente da metodologia utilizada na pesquisa, as categorias mais acessadas costumam ser comédia, música e esportes. Ele ainda afirmou que “sempre deixamos claro que o YouTube nunca foi para pessoas com menos de 13 anos”.
Segundo os resultados apresentados pela Pew, entre os mais de 43 mil canais analisados, uma pequena parte (cerca de 2%) é estrelada por crianças que aparentam menos de 13 anos em seus vídeos. No entanto, esses conteúdos recebem em média o triplo de visualizações do que aqueles que não possuem crianças. Além disso, vídeos com crianças e direcionado para crianças estão entre as categorias mais populares na rede.
Após investigações de como a empresa lida com dados e informações pessoais do público infantil, o YouTube vem buscando mudar essa cultura. Além disso, a rede tem sido alvo de acusações diversas que vão desde a recomendação de vídeos perturbadores para crianças até a recomendação de vídeos com crianças para pedófilos.
Como o YouTube lida com a pedofilia
Em fevereiro de 2019, o Youtube anunciou que estava tomando providências para desativar comentários em vídeos contendo menores de idade. A medida foi tomada devido a denúncias de que pedófilos estavam sinalizando para outros assediadores na área de comentários.
Além disso, em junho, o jornal americano The New York Times publicou uma reportagem demonstrando algo ainda mais preocupante para a plataforma, principalmente para os pais: como o algoritmo do YouTube pode agir explorando a imagem de crianças e recomendando para pedófilos vídeos onde figuram pessoas menores de idade.
De acordo com o Times, pesquisadores de Harvard perceberam a tendência enquanto estudavam a influência do YouTube justamente no Brasil. Segundo a pesquisa, a partir de vídeos com temática sexual, as recomendações foram apresentando vídeos “mais bizarros ou extremos e que davam ênfase a jovens”.
Seguindo o caminho das recomendações da plataforma, os pesquisadores chegaram a vídeos de crianças parcialmente vestidas. Esse conteúdo muitas vezes parecia ter sido publicado de forma inocente pelos próprios familiares.
O que os membros da equipe de Harvard sugerem é que o algoritmo do YouTube tenha aprendido com pessoas com o distúrbio psicológico de enxergar crianças de uma maneira sexual, de forma a recomendar esse conteúdo familiar para esses usuários.
O jornal entrevistou uma mãe, no Rio de Janeiro, que viu a filha de 10 anos viralizar no YouTube. A própria criança postou uma gravação com uma amiga brincando em uma piscina. Ainda que o canal não tivesse uma quantidade expressiva de seguidores, dentro de poucos dias, o vídeo já tinha mais de 400 mil acessos.
Vídeos bizarros e o caso Elsagate
A inserção de conteúdo impróprio em vídeos para crianças no YouTube também é uma das turbulências recorrentes enfrentadas pela empresa. Em 2017, um movimento chamado de #Elsagate (referência à personagem Elsa da animação Frozen) foi criado para alertar e denunciar vídeos impróprios mascarados com temáticas infantis.
Animações e encenações utilizam personagens infantis para simular cenas com conteúdo sexual, violento, escatológico, dentre outros temas inapropriados para crianças. Foram relatados casos desses conteúdos aparecendo nas recomendações de outros vídeos infantis e na reprodução automática.
O jornal O Globo entrevistou pais que passaram pela situação com seus filhos. Um representante do YouTube declarou ao jornal que a filtragem desse conteúdo é difícil na plataforma geral. Falou também que o site depende muito das denúncias por parte dos usuários e destacou a criação do YouTube Kids. “Ele tem curadoria, feita por algoritmo e também por seleção humana. Dificilmente um caso como este chegaria ao YouTube Kids”, disse ao jornal.
Em síntese, o YouTube tem demonstrado alguns esforços para combater essas situações. Contudo, a inserção de conteúdo impróprio e malicioso em vídeos para crianças no YouTube é um problema recorrente. Dessa forma, um hábito se faz muito necessário por parte dos pais: o acompanhamento próximo e constante do conteúdo que seus filhos menores de idade estão tendo acesso.
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